Entrevista com Anne Hathaway sobre Amor & Outras Drogas ao jornal O Globo:
Anne Hathaway fala de 'Amor e outras drogas', filme pelo qual está indicada ao Globo de Ouro
LONDRES - Anne Hathaway gosta de dizer, antes de disparar uma sonora gargalhada, que a nudez em "Amor e outras drogas" é apenas uma metáfora. Também canta em prosa e verso que jamais imaginara um dia ser paga para ficar nua, numa cama, com Jake Gyllenhaal, por semanas a fio. No filme dirigido por Edward Zwick (responsável por "Diamante negro" e "O último samurai"), que estreia nos cinemas brasileiros no dia 21, a atriz é Maggie, precocemente diagnosticada com mal de Parkinson, uma jovem artista com compreensível receio de investir em uma relação mais íntima. Até encontrar Jamie, um representante farmacêutico mulherengo, vivido por Gyllenhaal, às voltas com a distribuição do primeiro lote de um certo remédio destinado a curar impotência sexual.
Inspirado no livro de memórias de Jamie Reidy - "Hard sell: The evolution of a Viagra salesman" -, o filme mescla drama, romance e comédia, o que levou a imprensa internacional de Hollywood a indicar Hathaway como melhor atriz em comédia ou musical para o Globo de Ouro deste ano. A cerimônia contece no domingo.
Vestido branco e um suéter negro para combater o frio londrino, calça de couro colada no corpo e salto alto, Hathaway brinca com o pingente de ouro em forma de chave pendurado em seu pescoço enquanto conversa com o repórter:
- Estaria mentindo se dissesse que não dá um medo danado tirar a roupa na frente de um monte de gente. Dá. Mas é parte do trabalho. Na hora de filmar, você simplesmente... filma!
Seu companheiro de cena, Jake Gyllenhaal, com quem formou um par romântico menos feliz em "O segredo de Brokeback Mountain", fez os cálculos e afirma com precisão matemática que "eu e Anne estamos nus em exatos 65% da edição final do filme". A conta gerou uma brincadeira em Hollywood, com galalaus pedindo à Academia que incentive Hathaway a aparecer pelo menos 65% à vontade quando for apresentar, no dia 27 de fevereiro, ao lado de James Franco, o Oscar. A atriz de 28 anos, que teve de emagrecer para viver Maggie, acha graça do ti-ti-ti.
- No set, você nunca esquece que está sem roupa. Não há tempo real de preparação para você se sentir tão natural assim. E tinha de levar em conta que estava fazendo uma mulher em tratamento médico, não podia ser o corpo mais lindo do mundo. Minha vaidade tinha de ficar em segundo plano. Não podia trabalhar os músculos, ser mais rija. Mas acho que a nudez não é tão estarrecedora assim. É menos impactante, por exemplo, do que em "Pecados íntimos". E, no fim, cabe a vocês, da imprensa, decidir se este é de fato o tópico mais interessante do filme - diz.
A provocação é da mesma atriz que posou nua da barriga para cima, ao lado de Gyllenhaal, na capa da revista "Enterteinment Weekly". E que aparece protegida apenas por dois solitários travesseiros, novamente ao lado de seu companheiro de filmagem na cama, no pôster original de "Amor e outras drogas".
- Em Hollywood é comum negociar o quanto de sua pele aparece na tela. Mas desta vez a gente decidiu não negociar nada sobre nudez. Não teve agente palpitando, família, nada. Deixamos na mão do diretor. E acredito, de verdade, que ele conseguiu fazer uma senhora investigação sobre a intimidade de um casal que vive uma história realista de amor nos dias de hoje.
Recebido com ressalvas pela crítica - Mary Pols, na "Time", escreveu que o filme, por ela apelidado de "Lições de anatomia com Anne Hathaway", é uma mistura mal-sucedida de "Love story, uma história de amor" com "Jerry Maguire - A grande virada", -, "Amor e outras drogas" também tem seu lado sério. Zwick aponta o dedo indicador na direção do sistema de saúde público norte-americano e da indústria farmacêutica sem fazer concessões. Médicos são corruptos e recebem favores das grandes corporações, pacientes precisam levar pilhas de dinheiro aos consultórios para ser atendidos e, em uma das cenas mais fortes, Maggie organiza uma viagem com companheiros de Parkinson - todos bem mais velhos - para o Canadá, com o objetivo de comprar remédios mais baratos.
- Ao lado de "O casamento de Rachel" (pelo qual foi indicada ao Oscar), este foi o filme em que tive de pesquisar mais. Comecei na internet, falei com neurologistas, li os livros do Michael J. Fox, conversei com pacientes. Trabalhei os detalhes, como usar canudo para beber líquidos e segurar copos sempre com as duas mãos. Mas o que queria passar mesmo era a ansiedade de estar doente nos EUA de hoje, muitas vezes sem a possibilidade de se pagar um plano de saúde, sem amparo social, como é o caso da Maggie - conta.
Hathaway, cujo cachê é estimado em torno de US$ 5 milhões por filme, obviamente não faz parte dos 46 milhões de americanos que o governo estima não terem condições de pagar um plano de saúde. Ela acha importante frisar que "Amor e outras drogas" é, no entanto, essencialmente uma história sobre a negociação de um relacionamento amoroso. Que, em um paralelo com a vida real, ela iniciou sua parceria com Gyllenahaal em "Brokeback Mountain", quando filmaram por apenas oito dias, e decidiu concretizá-la, na cama e quase sempre sem roupa, no set do filme de Edward Zwick. Uma escolha, nas palavras de Gyllenhaaal, extremamente corajosa de uma das novas estrelas de Hollywood.
- Só tenho medo de uma coisa: solidão. Não tenho medo de estar sozinha, mas solidão é diferente, é quando ninguém entende você, quando não há ninguém para conversar sobre coisas íntimas, quando não há possibilidade de conexão. Disso eu tenho medo. Fazer a Maggie me obrigou a pensar no futuro. Não sei dizer algo específico, mas posso garantir que meu maior desejo, depois de ter feito "Amor e outras drogas", é ser um mulherão - diz, com as grossas sobrancelhas arqueadas ao máximo, antes de desaparecer pelos corredores do hotel londrino.
LONDRES - Anne Hathaway gosta de dizer, antes de disparar uma sonora gargalhada, que a nudez em "Amor e outras drogas" é apenas uma metáfora. Também canta em prosa e verso que jamais imaginara um dia ser paga para ficar nua, numa cama, com Jake Gyllenhaal, por semanas a fio. No filme dirigido por Edward Zwick (responsável por "Diamante negro" e "O último samurai"), que estreia nos cinemas brasileiros no dia 21, a atriz é Maggie, precocemente diagnosticada com mal de Parkinson, uma jovem artista com compreensível receio de investir em uma relação mais íntima. Até encontrar Jamie, um representante farmacêutico mulherengo, vivido por Gyllenhaal, às voltas com a distribuição do primeiro lote de um certo remédio destinado a curar impotência sexual.
Inspirado no livro de memórias de Jamie Reidy - "Hard sell: The evolution of a Viagra salesman" -, o filme mescla drama, romance e comédia, o que levou a imprensa internacional de Hollywood a indicar Hathaway como melhor atriz em comédia ou musical para o Globo de Ouro deste ano. A cerimônia contece no domingo.
Vestido branco e um suéter negro para combater o frio londrino, calça de couro colada no corpo e salto alto, Hathaway brinca com o pingente de ouro em forma de chave pendurado em seu pescoço enquanto conversa com o repórter:
- Estaria mentindo se dissesse que não dá um medo danado tirar a roupa na frente de um monte de gente. Dá. Mas é parte do trabalho. Na hora de filmar, você simplesmente... filma!
Seu companheiro de cena, Jake Gyllenhaal, com quem formou um par romântico menos feliz em "O segredo de Brokeback Mountain", fez os cálculos e afirma com precisão matemática que "eu e Anne estamos nus em exatos 65% da edição final do filme". A conta gerou uma brincadeira em Hollywood, com galalaus pedindo à Academia que incentive Hathaway a aparecer pelo menos 65% à vontade quando for apresentar, no dia 27 de fevereiro, ao lado de James Franco, o Oscar. A atriz de 28 anos, que teve de emagrecer para viver Maggie, acha graça do ti-ti-ti.
- No set, você nunca esquece que está sem roupa. Não há tempo real de preparação para você se sentir tão natural assim. E tinha de levar em conta que estava fazendo uma mulher em tratamento médico, não podia ser o corpo mais lindo do mundo. Minha vaidade tinha de ficar em segundo plano. Não podia trabalhar os músculos, ser mais rija. Mas acho que a nudez não é tão estarrecedora assim. É menos impactante, por exemplo, do que em "Pecados íntimos". E, no fim, cabe a vocês, da imprensa, decidir se este é de fato o tópico mais interessante do filme - diz.
A provocação é da mesma atriz que posou nua da barriga para cima, ao lado de Gyllenhaal, na capa da revista "Enterteinment Weekly". E que aparece protegida apenas por dois solitários travesseiros, novamente ao lado de seu companheiro de filmagem na cama, no pôster original de "Amor e outras drogas".
- Em Hollywood é comum negociar o quanto de sua pele aparece na tela. Mas desta vez a gente decidiu não negociar nada sobre nudez. Não teve agente palpitando, família, nada. Deixamos na mão do diretor. E acredito, de verdade, que ele conseguiu fazer uma senhora investigação sobre a intimidade de um casal que vive uma história realista de amor nos dias de hoje.
Recebido com ressalvas pela crítica - Mary Pols, na "Time", escreveu que o filme, por ela apelidado de "Lições de anatomia com Anne Hathaway", é uma mistura mal-sucedida de "Love story, uma história de amor" com "Jerry Maguire - A grande virada", -, "Amor e outras drogas" também tem seu lado sério. Zwick aponta o dedo indicador na direção do sistema de saúde público norte-americano e da indústria farmacêutica sem fazer concessões. Médicos são corruptos e recebem favores das grandes corporações, pacientes precisam levar pilhas de dinheiro aos consultórios para ser atendidos e, em uma das cenas mais fortes, Maggie organiza uma viagem com companheiros de Parkinson - todos bem mais velhos - para o Canadá, com o objetivo de comprar remédios mais baratos.
- Ao lado de "O casamento de Rachel" (pelo qual foi indicada ao Oscar), este foi o filme em que tive de pesquisar mais. Comecei na internet, falei com neurologistas, li os livros do Michael J. Fox, conversei com pacientes. Trabalhei os detalhes, como usar canudo para beber líquidos e segurar copos sempre com as duas mãos. Mas o que queria passar mesmo era a ansiedade de estar doente nos EUA de hoje, muitas vezes sem a possibilidade de se pagar um plano de saúde, sem amparo social, como é o caso da Maggie - conta.
Hathaway, cujo cachê é estimado em torno de US$ 5 milhões por filme, obviamente não faz parte dos 46 milhões de americanos que o governo estima não terem condições de pagar um plano de saúde. Ela acha importante frisar que "Amor e outras drogas" é, no entanto, essencialmente uma história sobre a negociação de um relacionamento amoroso. Que, em um paralelo com a vida real, ela iniciou sua parceria com Gyllenahaal em "Brokeback Mountain", quando filmaram por apenas oito dias, e decidiu concretizá-la, na cama e quase sempre sem roupa, no set do filme de Edward Zwick. Uma escolha, nas palavras de Gyllenhaaal, extremamente corajosa de uma das novas estrelas de Hollywood.
- Só tenho medo de uma coisa: solidão. Não tenho medo de estar sozinha, mas solidão é diferente, é quando ninguém entende você, quando não há ninguém para conversar sobre coisas íntimas, quando não há possibilidade de conexão. Disso eu tenho medo. Fazer a Maggie me obrigou a pensar no futuro. Não sei dizer algo específico, mas posso garantir que meu maior desejo, depois de ter feito "Amor e outras drogas", é ser um mulherão - diz, com as grossas sobrancelhas arqueadas ao máximo, antes de desaparecer pelos corredores do hotel londrino.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário